Como funciona a primeira sessão de terapia?
Me lembro quando estive na minha primeira sessão de terapia. Naquela época, eu era uma jovem estudante da graduação e, apesar de ouvir falar sobre Psicologia diariamente eu não tinha ideia do que eu deveria fazer na minha primeira sessão.
Frio na barriga. Ansiedade. Pensei em desmarcar algumas vezes, mas sabia que precisava estar ali.
Ensaiei diversas formas de começar a falar de mim. “Vou começar assim…”, “Ah, não, melhor eu começar por aqui…”. A verdade é que quanto mais eu tentava planejar o que eu falaria, mais eu me sentia ansiosa. Enquanto tentava organizar as ideias, junto com elas vinha uma chuva de pensamentos desconfortáveis.
Em minha mente, ressoavam pensamentos colocando em dúvida a minha decisão: “Eu preciso mesmo disso? Não tem outra forma de lidar?”. Precisei falar pra mim mesma, algumas vezes, sobre o porquê aquele passo era importante.
Chegou o grande dia, me lembro bem. Era fim da tarde, logo depois do meu estágio. Durante todo o caminho, eu tremia um tanto, me sentia gelada. “Mariana, pode subir!” – anunciou a recepcionista. O caminho do elevador à sala demorou uma eternidade! Quando entrei na sala, senti uma sensação boa de leveza. Sim, eu ainda estava ansiosa, mas ali o conforto parecia me dizer que tudo ficaria bem.
A Psicóloga me chamou. Conversamos um pouco sobre meu trajeto até ali e sobre como eu a havia conhecido. Me lembro bem, nesta hora, senti que estava me acalmando.
Quando me dei conta, estávamos falando sobre o que me motivou a buscar Psicoterapia, sobre o “estopim”. Expliquei o que estava acontecendo naquele momento e respondi às perguntas que surgiam, conforme eu narrava toda a história.
Percebi que a terapeuta estava interessada no que eu dizia ali. Aos poucos, me percebi mais relaxada a ponto de me emocionar enquanto falava. Àquela época, eu estava sobrecarregada com trabalho, faculdade, iniciação científica e, de quebra, passando pelo luto de um relacionamento que havia terminado. Me senti acolhida pelo interesse e olhar da terapeuta, que me ouvia atentamente.
Me lembro que, naquela primeira sessão, também falamos um pouco sobre características gerais da minha rotina: meu trabalho, o que estudava, minha família e rotina. Acho que, no fim das contas, a terapeuta queria ter uma visão geral de quem eu era, naquele momento.
Ao final, ela resumiu o que eu havia divido e compartilhou um pouco suas impressões iniciais sobre o que estava acontecendo. Também me disse que seria importante investigarmos um pouco mais alguns pontos que eu havia citado mais superficialmente. Ainda com a palavra, a terapeuta me explicou como funcionava em termos práticos e burocráticos o processo de terapia. Acertamos o nosso horário semanal e o valor a ser pago mensalmente.
Ao final, ganhei um abraço que fez valer todo o esforço que fiz para não desistir naquele momento. Saí do consultório com um piano a menos nas costas. Claro, nada havia se resolvido. Mas, a partir daquela conversa, um sentimento de esperança me tomou.
Se você chegou até aqui, devo te dizer que relembrar deste momento me emocionou. Dividi minha experiência contigo, para te dizer que a primeira sessão de terapia é um momento muito especial. Provavelmente, assim como eu, você sentirá um tanto de ansiedade, duvidará da necessidade e cogitará seriamente o cancelamento. Ainda assim, se decidir continuar, mesmo com frio na barriga, romperá uma barreira imensa!
Não se preocupe em decorar ou organizar muitos a ideias. Preocupe-se em estar ali, de verdade, de peito aberto. Nós terapeutas somos profissionais treinados (haja estudo!) para conduzir este momento. Entregue-se ao momento e observe, com cuidado, como você é recebido, como se sente naquele espaço e diante daquela pessoa.
Ah! Não se preocupe com o choro, há sempre uma caixinha de lenço acolhedora pertinho de você!
É importante que você saiba, a Psicoterapia é um processo profundo de desenvolvimento pessoal, frente a você estará um profissional capacitado para te ajudar nesta jornada. E, apesar desta relação ser profissional e, em alguma medida comercial, nesta relação será construído um vínculo emocional significativo.
Sim, nós terapeutas nos importamos genuinamente com cada pessoa que se senta frente a nós. Por isso, não tenha medo, seja você mesmo e confie, do outro lado tem uma pessoa sensível e empática, disponível para caminhar contigo nesta jornada.
Boa primeira sessão para você!
Abraços carinhosos,
Mari
PS1.: na Psicologia, como em qualquer outra área, existem profissionais bem capacitados e mal capacitados. Se, por acaso, a sua primeira experiência na terapia foi ruim, não desista. Existem muitos outros profissionais bem preparados para te atender.
PS2.: é claro que, em um primeiro encontro, não se constrói um super vínculo terapêutico. A construção deste vínculo acontece aos poucos, a cada sessão. Mas, a verdade é que muitas vezes, em um encontro a gente percebe quando “não encaixou” com aquele profissional, mesmo ele sendo competente. Se isso acontecer, não se envergonhe, busque um novo profissional. A prioridade é você viver uma boa jornada!