A tecnologia tem mudado significativamente a forma como nos comportamos, não podemos negar, não é mesmo?
Quando em meados de 2015/16 uma cliente me pediu para que fizéssemos nossas sessões online, me assustei. Tremi na base. Não conseguia me imaginar num outro “ambiente” que não fosse o meu consultório, com minha poltrona, meu sofá e a proximidade física.
Àquela altura, o atendimento virtual ainda não era pauta frequente em meio aos Psicólogos e possivelmente seria um sacrilégio pensarmos numa rotina de consultório virtual.
Engolindo minhas resistências, decidi me aventurar nos atendimentos online com aquela cliente. Com a porta aberta, muitos outros chegaram, principalmente brasileiros imigrantes, que vivem em diversos cantos deste mundão.
Aos poucos fui entendendo quão potente poderia ser o atendimento online, mesmo que nele não tivesse a mobília e a cor que eu desejava. A verdade é que, eu entendi, na prática, que o “setting terapêutico” tem muito mais a ver com a conexão que construímos entre terapeuta e cliente, do que com a mobília que temos em nosso consultório físico.
O espaço virtual, apesar de ser um “ambiente”, não se constitui por objetos. Pouco importa a cor da cadeira em que estou sentada, menos ainda se esta cadeira está combinando com o tapete. Nos atendimentos virtuais, o que importa mesmo é o tom da voz, seus timbres e oscilações; e o olhar com suas inseguranças e convicções. Pouco importa a prateleira bonita, cheia de livros. Muito importa a escuta ativa, cautelosa e acolhedora.
Em 2020, eu já estava muito habituada a fazer atendimentos online. Boa parte dos meus clientes e alunos, inclusive, não residiam em São Paulo, capital, onde tenho meu consultório. O mesmo acontecia com a minha equipe, apesar dos atendimentos presenciais ainda acontecerem com frequência, o mundo online estava roubando a cena.
Com a pandemia, apesar de todos os atravessamentos emocionais que sofremos, a realidade dos atendimentos virtuais não nos assustou (a mim e a minha equipe). Conseguimos adaptar nossas rotinas para que todos clientes tivessem a melhor experiência e funcionou muito bem para a maioria. Atualmente, o atendimento online é uma realidade que não sairá mais das nossas vidas.
Mas, afinal, o atendimento online funciona para todos?
Poderia escrever um tanto de coisas romantizando o atendimento online, mas não o farei. A verdade é que, apesar de muito eficiente, o atendimento online não é para todo mundo. Há muitas variáveis que precisam ser avaliadas, para que os clientes tenham uma experiência positiva nesta modalidade de atendimento.
1) Psicoterapia para crianças: o atendimento online infantil costuma ser bastante desafiador, uma vez que as funções cognitivas das crianças ainda não foram totalmente desenvolvidas. Isso é, a capacidade de dialogar com o outro, manter foco e atenção ainda são habilidades bastante imaturas. Geralmente, terapeutas infantis utilizam muitos recursos lúdicos visuais/manuais para intervir com as crianças, de modo a ajudá-las a desenvolver algumas habilidades muito importantes para seu desenvolvimento cognitivo e emocional. Estes manejos, no ambiente online, são bastante limitados.
Psicoterapia para adolescentes: o atendimento online com este público, pode ser tão desafiador quanto com as crianças. Ainda que os adolescentes consigam focar-se mais do que as crianças, é importante avaliar cada caso individualmente. Conheço adolescentes que conseguem ter um bom aproveitamento do processo online, outros que têm muitas dificuldades neste “ambiente”. A depender das dificuldades deste jovem, pode-se fazerem necessárias intervenções presenciais, mediadas por recursos lúdicos, assim como com as crianças. Por isso, repito, cada caso deve ser avaliado individualmente.
Psicoterapia para adultos: o público adulto tende a ter um ótimo aproveitamento dos atendimentos online por conta da motivação, da capacidade de manter foco e atenção.
Psicoterapia para idosos: tende a funcionar bem, a depender da intimidade que o cliente tenha com tecnologia. Se houver um bom manejo com os dispositivos, bem como capacidade de foco e atenção, os atendimentos tendem a ocorrer de forma positiva.
Importante dizer que para cada um destes grupos, é preciso avaliar cuidadosamente o cenário. Já recebi contatos de famílias que moravam no exterior e precisavam de ajuda com os filhos (crianças). A melhor forma que encontramos foi o atendimento de Orientação Parental Online e não terapia infantil. Os resultados foram muito positivos. Imagina só, se esta família não tivesse recebido suporte?
O mesmo acontece com adultos que moram em cidades muito pequenas, em que todos se conhecem. Compreendo o desconforto e a dificuldade de encontrar profissional para fazer terapia. Às vezes, para este cliente, o atendimento online é o melhor cenário, do contrário, dificilmente faria terapia.
Cuidados importantes para a Psicoterapia Online
Ainda que seja mais cômodo, o atendimento online pode ser muito proveitoso quando alguns detalhes são respeitados:
1) Sigilo: É preciso que o cliente tenha um ambiente privado, sem interferência de ninguém para que possa, de fato, “mergulhar” nas sessões. É importante que não se sinta inibido ou tenha receio de falar algo, por medo de estar sendo ouvido por outra pessoa. Com espaço privado, o sigilo terapêutico é preservado, assim como aconteceria no atendimento presencial. Aqui está um aspecto muito importante, que merece muita atenção: informações que são faladas em terapia, quando ouvidas por outra pessoa, podem causar muitos desconfortos e consequências ao próprio cliente… por isso, muito cuidado! Respeite o sigilo!
2) Conexão: Uma boa conexão com a internet é fundamental para que as sessões aconteçam. Oscilações no sinal, atrapalham a conexão emocional, o encadeamento de ideias e, também, as intervenções. Por isso, é importante que o cliente se organize para que as sessões aconteçam em um lugar apropriado e com excelente conexão de internet.
3) Ambiente: É importante que o cliente realize as sessões num espaço confortável e aloque o dispositivo (computador, tablet, celular) de modo que o profissional consiga vê-lo. Geralmente, peço aos meus clientes para que coloquem o dispositivo numa mesa, se sentem frente a ele, de modo que eu possa ver suas expressões e movimentos com os membros superiores. Não recomendo que os atendimentos aconteçam sem vídeo, com cliente deitado, ou caminhando ou segurando o dispositivo.
4) Frequência: Assim como no atendimento presencial, a frequência nos atendimentos é muito importante para que os processos de autoconhecimento e mudança comportamental aconteçam de forma satisfatória. Acredito que a psicoterapia é mais de um investimento financeiro. A Psicoterapia é, sobretudo, um investimento emocional. Para que funcione positivamente, é importante que haja frequência, entrega e compromisso, independente da modalidade.
5) Transparência: A relação terapêutica é a base para que um bom processo terapêutico aconteça. Como em toda relação, para criar um vínculo saudável e terapêutico, é preciso entrega e vulnerabilidade de ambas as partes. Para que alguns clientes se sintam compreendidos, validades e cuidados, a presença física do terapeuta pode ser necessária. Por isso – e por qualquer outros motivo – , quando algo não funcionar bem no processo terapêutico, é importante que seja comunicado. Já precisei, diversas vezes, conversar com clientes sobre alguns aspectos que atrapalhavam as sessões online, de modo a melhorar nossos encontros. Também já finalizei processos com clientes que me disseram sentir muita falta do presencial. Ratifico, é muito importante que qualquer desconforto – e também os pontos positivos – sejam comunicados dentro de sessão. Assim, juntos terapeuta e cliente poderão tomar os melhores encaminhamentos.
Sem romantismos!
Como comentei anteriormente, acredito no fato de que a modalidade de Psicoterapia online não irá embora. Ela veio para ficar e, em muitas situações, salvar vidas!
Vejo, todos os dias, em minha prática, os benefícios do acompanhamento online, sobretudo no que tange a otimização de tempo. Muitos dos meus clientes não fariam terapia, se não fosse online, porque moram em outro país e ainda não dominam o idioma ou porque não teriam tempo para se deslocar até um consultório físico.
Terapia salva vidas, independente da modalidade!
Quando todos os cuidados são respeitados, a tendência é que o “ambiente virtual” se torne um canal de muitas transformações. A ausência de mobília abre espaço para o esforço mútuo de se fazer presente e conectados.
Se você está buscando uma “Psi para chamar de sua”, e a modalidade que mais se encaixa na sua rotina é online, não tenha receio. Experimente. Respeite todos os cuidados que citei neste post e abra-se para a experiência. No início pode ser um pouco estranho, assim como também seria presencialmente, mas, aos poucos, você se adapta. E, se não adaptar, não tem problema, com muita honestidade, você e a terapeuta encontrará um caminho alternativo.
O mais importante é que você tenha a melhor e mais transformadora vivência na terapia!
PS.: Me coloco à disposição para te ajudar nesta missão! Caso você deseje conhecer a minha clínica, clique aqui.
Um abraço carinhoso,
Mari