Você sofre com ansiedade? Já faz muitos anos, mas me lembro vividamente, da minha primeira cliente no consultório, quando iniciei meus atendimentos, após poucos meses de formada. Uma moça que se tornou muito querida. Eu estava com medo, mas ali, a minha frente, no sofá, havia alguém em sofrimento, contida, um tanto trêmula e com a voz baixinha. Me lembro com clareza da sua história. Foi a primeira vez em que ouvi os relatos desconfortáveis de alguém que enfrentava crises de ansiedade com frequência.
De lá pra cá, inúmeros clientes chegaram até mim contando histórias muito parecidas. Todos sofriam muito com os picos intensos de ansiedade, é verdade. Mas, não demorava muito para descobrirmos que além das crises, seus dias eram tomados por momentos ansiosos, sem que eles percebessem. A ansiedade estava presente na relação com o chefe, com os colegas de trabalho, nas esquivas dos eventos sociais, no perfeccionismo e na autocobrança, nos momentos de exposição e, sobretudo, na dificuldade em dizer não.
Junto com meus clientes, passei a entender como as crises de ansiedade apareciam. Elas, na verdade, são o alerta, o pedido de socorro! Aaprecem para comunicar que muitas coisas não vão bem. Hoje, costumo dizer que a ansiedade não cuidada vai entrando e permeando nossa vida, feito água escorrendo. Quando notamos, já entrou embaixo dos móveis e encharcou o tapete. Ela é sorrateira.
Me lembro com clareza, também, de um outro paciente querido, que passou a se ausentar no trabalho por conta do seu intenso sofrimento. Sua cama era o único lugar em que se sentia seguro. Passou a evitar amigos e qualquer contato social. Deprimiu. Foi difícil e custoso recuperar sua vida novamente. Juntos, caminhamos devagarzinho mas com consistência.
Poucos sabem, mas a ansiedade está presente em muitos quadros de transtornos mentais como, por exemplo, a depressão. É preciso ficar alerta! Sentir ansiedade em situações específicas é comum, faz parte de nosso funcionamento. Sofrer, paralisar e sentir medo por estar ansiosa pode ser indicativo de algo maior.
Toda vez que me lembro dos meus clientes que, hoje, se relacionam de forma saudável com sua ansiedade, sinto um orgulho danado. Foram corajosos. Encararam o processo. Enfrentaram, de peito aberto, o desafio de pouco a pouco conquistar uma vida mais leve e com mais sentido.
Mas, para que o tratamento dos transtornos ansiosos aconteçam de forma satisfatória, é muito importante entendermos como eles funcionam. Existem diferentes transtornos de ansiedade, e o que os diferencia são os seus sintomas. As consequências de cada um destes transtornos também são diferentes, por isso, é preciso uma avaliação profissional cuidadosa. Devo dizer também, que muitas pessoas acham que têm um transtorno de ansiedade e não necessariamente o tem. Por isso, é importante saber diferenciar.
Como diferenciar o sentimento de ansiedade e um transtorno de ansiedade?
A diferença está exatamente na intensidade, na frequência e no grau de sofrimento que este sentimento pode trazer. Assim como a tristeza faz parte do nosso dia a dia, sentir-se cronicamente triste pode ser indicativo de algo maior como, por exemplo, depressão. O mesmo raciocínio aplicamos à ansiedade.
Ansiar por algum acontecimento iminente é esperado. Vez ou outra, perder uma noite de sono por conta da preocupação com algo, acontece também. Sentir medo de algo maior que está por acontecer, ou antecipar algumas possíveis consequências, pode fazer parte do nosso dia a dia. Tudo isso se tornará um problema, quando te fizer sofrer e te paralisar.
A ansiedade se torna um transtorno quando assume a mesa de comando. Quando te impede de tomar as decisões que são importantes e significativas, pra você. Quando você passa a evitar eventos sociais, deixa de encarar desafios no trabalho, esconde suas ideias e tem medo de planejar qualquer coisa. Quando você passa mais tempo ruminando pensamentos, do que agindo. Quando você perde noites a fio, se culpando e julgando as próprias ações.
Como eu disse anteriormente, a ansiedade é sorrateira. Ela vai ocupando espaços, sem que você perceba. Num piscar de olhos, você se torna refém. E, apesar de sofrer com a sua tirania, a maior parte das pessoas que sofrem com transtorno de ansiedade, acham que “é besteira ou frescura”. Mesmo sofrendo as consequências de uma vida tensa e exaustiva, muitos acham que deveriam superar sozinhos.
A esta altura, nem preciso te dizer quão perigoso é este movimento, não é mesmo? Tentar “superar sozinho”, sem ajuda profissional, na grande maioria dos casos, apenas aumenta a gravidade do quadro.
Acho que tenho transtorno de ansiedade, o que devo fazer?
O primeiro passo é sempre buscar ajuda especializada. Algumas pessoas recorrem inicialmente a um médico Psiquiatra (para iniciar medicação). Outras preferem buscar a Psicoterapia. Penso que o combo “terapia + psiquiatria” é maravilhoso. No entanto, devo logo te dizer: nem todos os casos de transtorno de ansiedade precisam de medicação.
Pois é, muitos deixam de buscar ajuda porque têm medo de tomar medicação. Para além dos mitos que a medicação Psiquiátrica têm (falarei sobre isso em outro post), a verdade é que nem todo mundo precisa da medicação, mas ficam com medo de ir a um médico Psiquiatra. Existem muitas outras combinações possíveis de tratamento, mas, tudo dependerá do seu grau de sofrimento, das consequências que você tem enfrentado e das características que o seu transtorno apresenta.
No geral, gosto de sugerir a Psicoterapia como primeiro passo, de modo que ao iniciar o processo terapêutico, terapeuta e cliente, juntos, avaliarão todos os aspectos que citei anteriormente. Um bom terapeuta saberá quando encaminhar o cliente ao Psiquiatra. Além disso, de modo geral, é na Psicoterapia que acontecerá a parte mais importante do tratamento: a mudança comportamental.
De forma alguma recomendo o caminho “somente medicação”. Apesar do tratamento farmacológico ser muito importante para alguns casos, a medicação não pode e nem deve ser a única fonte de tratamento. Remédio não muda comportamento de ninguém! Essa é a mais profunda verdade. Grande parte do tratamento para ansiedade consiste na mudança comportamental. O melhor lugar para que estas mudanças sejam planejadas é a psicoterapia!
Lembre-se: para o tratamento da ansiedade medicação em alguns casos, terapia para todos!
Como funciona a terapia para pessoas com transtorno de ansiedade?
Como qualquer outro processo terapêutico, inicia-se sempre com uma boa dose autoconhecimento. É muito importante que o cliente, aos poucos, desenvolva maior percepção sobre seus próprios comportamentos e sentimentos. Paralelo ao processo de autoconhecimento, acontece também a mudança comportamental. Juntos, terapeuta e cliente, elegem os objetivos terapêuticos e planejam formas de praticar novas habilidades.
Ainda que cada processo terapêutico seja único, alguns temas são muito comuns, dentro da terapia, quando falamos sobre pessoas que sofrem de ansiedade. Alguns destes temas são: autocobrança excessiva, insegurança, ciúme, medos excessivos, crises de ansiedade, ruminação de pensamentos, dificuldades em dizer não, insegurança, dificuldade em flexibilizar, perfeccionismo, trabalho excessivo e medo de assumir riscos. Temas como estes serão visitados na psicoterapia e, de acordo com as características de cada indivíduo, juntos – terapeuta e cliente – pensarão em estratégias de intervenção.
Quando necessário, o terapeuta fará encaminhamento do cliente para outros profissionais como, por exemplo: psiquiatra, nutricionista, endócrino, nutrólogo, educador físico. Nesse sentido, vale ressaltar que a mudança de estilo de vida é muito importante que o cliente com transtorno de ansiedade tenha maior controle sobre os sintomas.
A importância do estilo de vida e cuidado com a rotina
Muitos dados de pesquisa, atualmente, mostram que a maior parte das pessoas diagnosticadas com transtorno de ansiedade desenvolveram o transtorno por conta das práticas de estilo de vida. O que eu quero dizer com isso?
Quero te dizer que, infelizmente, o modo como temos levado a nossa vida em termos de alimentação, sedentarismo, excesso de trabalho, redes sociais e autocobrança excessiva tem feito com que adoeçamos. Existem muitas pessoas que sofrem com transtornos de ansiedade desde a infância, gerenciando de forma crônica os sintomas destes transtornos. Acontece que, felizmente, a parcela de pessoas com um transtorno ansioso crônico é muito menor, quando comparada com a parcela de pessoas que desenvolvem um transtorno de ansiedade por conta de um estilo de vida pouco saudável.
Sendo assim, parte do tratamento para a redução e controle de sintomas, dos transtornos ansiosos, perpassa a mudança cuidadosa de estilo de vida. É preciso desenvolver práticas saudáveis de higiene do sono, controle e manejo do estresse, atividade física, alimentação limpa e nutritiva, gestão de tempo, lazer e descanso. Sem contar, é claro, do cuidado especial com as relações interpessoais. Viver em meio a relações tóxicas é uma das variáveis que mais influenciam no aumento dos sintomas ansiosos.
Não dá mais para acreditarmos que os remédios nos salvarão de uma doença ou de um transtorno. Também não dá mais para acreditar que bater ponto nas sessões de psicoterapia é a chave para tratar um transtorno. Problemas complexos se resolvem com recursos complexos. Por isso, acredito profundamente que precisamos usar de forma estratégica todos estes recursos.
Se necessário, utilize a medicação para amenizar a intensidade dos sintomas. Faça terapia para compreender seu funcionamento e, com seu terapeuta, trace estratégias para melhorar a forma como se comporta frente a sua realidade. Assuma as rédeas da sua saúde. Com sabedoria, use o combo: remédio e terapia, para te ajudar a mudar a sua rotina e seu estilo de vida.
O que esperar do tratamento para ansiedade?
Ansiedade faz parte do nosso funcionamento. Está relacionada ao nosso sistema de reações frente a um perigo. É uma reação fisiológica que nos acompanha há muito tempo, com a evolução da humanidade. Sendo assim, acredito que não faz sentido esperarmos que a ansiedade não venha mais bater em nossa porta. Ela faz parte da nossa vida e de como reagimos ao mundo.
Para as pessoas que têm um transtorno, como expliquei anteriormente, é importante falarmos sobre aprender a manejar os sintomas. Desta forma, podemos esperar melhoras significativas no modo como essas pessoas se relacionam com a ansiedade. Inclusive, aos poucos, aprendem a não temer ou querer “excluir” esta sensação. Podemos falar, também, sobre maior flexibilidade comportamental. Ou seja, na terapia, aprendem a se comportar de forma mais flexível e criativa diante de situações desafiadoras. Adicionando as mudanças de estilo de vida, os sintomas podem ser reduzidos quase a zero, entrando em remissão.
Importante lembrar que, estas mudanças dependem do engajamento e comprometimento de cada cliente. Quanto mais engajados no tratamento, mais resultados positivos são colhidos. Além disso, quanto antes se inicia o tratamento, melhores podem ser os resultados.
Se você leu este texto e se identificou, não busque um diagnóstico pela internet. Busque ajuda profissional! O cuidado com a sua saúde é a chave para um bom tratamento. Coloco-me à disposição, junto com minha equipe, para lhe ajudar. Basta clicar aqui e entrar em contato comigo.
Não deixe para depois… cuide de você!
Com carinho,
Mari