É difícil nos curar no mesmo ambiente que nos adoeceu

Essa é uma reflexão que surge com frequência nas sessões de terapia. Em diferentes momentos, mas para a maioria dos meus clientes, eu sinto que é algo que precisamos conversar. Algo delicado, por vezes doloroso, mas importante e que merece a nossa atenção. Quando começamos a desenvolver uma consciência mais profunda sobre nossa história, sobre quem somos, sobre nosso corpo, nossas emoções e nossas necessidades, começamos a perceber o quanto o ambiente influencia o que sentimos, pensamos e fazemos.

A influência do ambiente em nosso comportamento

Existe um conceito das ciências comportamentais que considero muito pertinente: todos os nossos comportamentos, sejam eles abertos e públicos, visíveis aos outros, ou íntimos e privados, como o que sentimos e pensamos, são influenciados pelo nosso entorno, pelo ambiente em que estamos inseridos.

Já compartilhei em outros textos, a ideia de que as nossas crenças não surgem do nada, nem de nós mesmos de forma isolada. Nossos pensamentos e ações também não. Todos são influenciados pelo ambiente ao nosso redor. Isso inclui a forma como nos comunicamos, como nos alimentamos, como trabalhamos e todos os outros comportamentos que fazem parte do nosso repertório.

Nossos comportamentos são influenciados pelas pessoas ao nosso redor, pelas relações que construímos, pelo ambiente físico, pelas estações do ano, pela temperatura, pelo sol e pela noite. Tudo ao nosso redor exerce alguma influência. Por isso, é tão desafiador desenvolver hábitos, comportamentos e habilidades saudáveis em um ambiente tóxico, que constantemente reforça pensamentos negativos sobre nós mesmos.

Acreditar na possibilidade de mudança ou visualizar um cenário diferente e melhor, para nossa vida, quando estamos olhando através de uma lente embaçada, dentro de um contexto adoecido, é, sem dúvida, uma tarefa difícil.

Os privilégios e desafios de cada paciente

Ter essas conversas com alguns dos meus clientes é sempre muito desafiador. Parte deles possui certos privilégios que permitem fazer escolhas, como se afastar ou dosar o contato com familiares, sair de um emprego, terminar um relacionamento ou ter autonomia financeira para encerrar um casamento. Isso, claro, é ideal. No entanto, muitos pacientes ainda não dispõem desses privilégios e precisam “sustentar”, pelo menos por um tempo, ambientes nocivos que os afetam de maneira muito negativa.

Novas referências para uma vida com sentido

Com muito cuidado e com muita gentileza, eu brinco com meus clientes, que sou o “bichinho da esperança”. Sempre faço um convite a eles, especialmente àqueles que se sentem de “mãos atadas” e sem expectativas: “que façamos devagar, de forma estratégica, mas que tentemos algum tipo de mudança. Tentemos, mesmo enquanto você está neste lugar nocivo, buscar outras referências, outras relações, outros estímulos, para que, aos poucos, no mínimo, você comece a passar uma mensagem diferente para si. Para que você passe a vivenciar um contexto que te mostre que pode ser diferente, que sim, você tem potencial, que sim, você pode alcançar muitas outras coisas positivas para você. Que você pode ser mais saudável, pode ser mais segura, pode ser mais competente.”

Sinalizo, inclusive, para que caminhemos devagarzinho, acessando pequenos estímulos que comecem a mostrar, para cada um deles, que pode existir uma dinâmica de vida diferente. Com calma, tentando manter esses dois cenários (antigo e novo), vamos abrindo um pequeno túnel de esperança no coração desses pacientes, fortalecendo aquela “musculatura” de quem começa a acreditar que, sim, é possível encontrar o bem-estar, a autoconfiança, autoestima saudável e boas relações.

Talvez, em algum momento, esses pacientes consigam sair do ambiente nocivo e vivenciar um ambiente mais saudável. Talvez eles consigam diminuir o acesso a esse ambiente nocivo e aumentar o acesso a um ambiente saudável.

No fim das contas, este é o meu grande objetivo como terapeuta: inspirar esperança, ajudá-lo a encontrar meios que construam uma vida plena de significado e bem-estar.

Por fim, mas não menos importante…

Talvez, neste momento, você se identifique com todo este contexto. Talvez se sinta perdido (a) em meio às dificuldades e limitações de um ambiente limitante. Pode ser que você esteja precisando de uma palavra de encorajamento, para movimentar-se em direção ao novo. Sim, escrevi este texto para te inspirar ou, ao menos, para te convidar a pensar diferente. Há esperança, enquanto há vida. E lembre-se: se estiver difícil caminhar sozinho (a), busque ajuda profissional. Busque alguém que te fortaleça nessa jornada.

Estou à disposição para batermos um papo. Clique aqui para me escrever.

Um abraço carinhoso,

Mari

 

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