Estamos ON, mas cada vez mais OFF

O que estamos ensinando para as gerações futuras?
O que estamos oferecendo para nossos filhos?
Como estamos demonstrando amor?

O sofrimento está batendo a nossa porta, dia após dia. Incessantemente. Me encontro com ele diariamente em atendimentos de adultos, adolescentes e crianças, também. Ninguém escapa. Todos sofrem.

Me pergunto: por que as pessoas estão sofrendo tanto?
Consigo pensar em diversos motivos causadores. Você também pode imaginar vários, tenho certeza. Mas, em meio há tantos motivos, quero destacar uma variável sorrateira, discreta, chamada solidão.

Estamos conectados a todo tempo. Falamos com pessoas próximas fisicamente e, também, temos acesso a quem está do outro lado do mundo. Vídeos, imagens, mensagens de voz e de texto. Gravação ou em tempo real. Conectados!
Muito conectados, mas sozinhos.

O celular senta conosco à mesa. O Whatsapp faz parte da roda de amigos. As redes sociais determinam nossa autoestima. A quantidade de curtidas demonstra aceitação ou rejeição. As poses devem ser perfeitas. O cabelo tem de estar intacto. A roupa tem de ser tendência. O momento gostoso tem de ser compartilho agora, não pode esperar, todos precisam saber imediatamente. A bateria tem de estar cheia, do contrário o desespero se instaura.

Enquanto tudo isso acontece, enquanto nos conectamos, deixamos de lado uma porção de outras coisas. Desconectamos do mundo real. Esquecemos de dar “bom dia” olhando nos olhos. Deixamos de conversar face a face. Perdemos o tato, o contato, a troca. Não enxergamos o sofrimento daqueles que dizemos amar, que estão ao nosso lado. Falamos menos sobre qualquer coisa, quem dirá sobre sentimentos!

Estamos ilhados. 

Assim tem sido nosso dia a dia. Trocamos a conexão humana pela conexão wi-fi. Dessa maneira temos ensinado crianças e adolescentes: “conectem-se e basta!”

“Eu dou celular, tablet, computador, notebook, videogame, DS, precisa de algo mais?”

“Eu pago escola, roupas, passeios, baladas, não sei porque está sofrendo…”

 “Trabalho demais, não tenho tempo para conversar sobre besteira.”

 “Eu pago para que outras pessoas cuidem disso…”

Frases como essas têm feito parte da rotina de crianças e adolescentes que sofrem por não terem o cuidado ou a atenção dedicada dos pais. Adoecem por não terem ambiente acolhedor, motivador, porto seguro. Se isolam por se conectarem mas se sentirem sozinhos. Deprimem por ter tudo e, ao mesmo tempo, não terem nada. Nada que os façam sentir bem.

Nossa sociedade está doente e precisamos cuidá-la. Nossas relações estão quebradas, nossos afetos perdidos. Estamos nos perdendo em meio a tantos encontros virtuais. Por isso, lhe proponho: Que tal demonstrarmos mais interesse pelas pessoas que nos rodeiam, sobretudo, adolescentes e crianças? Que tal trocarmos o bate-papo no whatsapp por algum tempo de conversa olho no olho? Que tal nos interessarmos pelo que o outro sente? Que tal fazermos convites para encontros reais? Que tal darmos atenção aos nossos filhos mesmo depois de um dia cansativo? Que tal experimentarmos alegria sem buscarmos curtidas? Que tal falarmos mais do que sentimos? Que tal nos dedicarmos mais ao aqui e agora?

Não podemos deixar que toda essa solidão se espelhe, entre em nossa casa, em nossa família. Podemos fazê-la parar, basta que troquemos a pressa, o rápido, o mais fácil, pelo cuidado atento e íntimo. Fiquemos próximos, de verdade, face a face. Disponíveis para erros e acertos. Abertos à comunicação não agressiva, acolhedora.

Façamos as relações reais mais interessantes que o contato virtual. Fiquemos juntos!

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