“Eu já tentei terapia, mas parece que não é pra mim. Parece que não funcionou. E agora?”. Este é um questionamento que já ouvi algumas vezes, de diversas pessoas, e achei importante trazer essa reflexão e compartilhá-la com você.
Quero começar dizendo que este post não é uma defesa ferrenha de que a terapia é a solução de todos os nossos problemas, porque embora seja psicóloga, não acho que é por aí. A ideia é te ajudar a pensar de modo mais amplo alguns aspectos da terapia, que talvez possam te auxiliar, caso você se enquadre neste cenário de alguém que tenha experimentado uma vez e não tenha sentido efeitos positivos.
Primeiro aspecto: A terapia é um processo voluntário
A terapia tem o potencial de promover mudanças, mobilizar comportamentos, reflexões e ações em geral, quando o cliente está – realmente – disponível para este processo. Ou seja, a disponibilidade do cliente é um elemento fundamental para que a terapia funcione. Uma vez que é um processo voluntário e que exige muita disponibilidade afetiva, um cliente que se sente “forçado” a fazer terapia, provavelmente, não vivenciará o processo de forma profunda e transformadora.
Nesse sentido, é importante refletir que, recorrentemente, pessoas procuram terapia motivadas pelos interesses de outras. Aqui não estou falando de um conselho ou de uma recomendação bem intencionada. Me refiro a situações específicas como: um indivíduo que busca terapia porque a esposa disse que, se não o fizer, vai haver um divórcio; porque a namorada está prestes a terminar; porque o chefe avisou que, se não melhorar, pode haver demissão; ou ainda porque a professora do filho afirmou que seria importante.
Independente do contexto, iniciar a terapia sob o controle de uma regra, da indicação de alguém, do apontar de dedo ou até mesmo de uma condição quase coercitiva, geralmente não funciona muito bem. É claro que pessoas fazem terapia, por vezes, acabam por recomendar para outras. É comum que pessoas que vivenciam o processo terapêutico verdadeiramente se tornem o que chamo, carinhosamente, de “testemunha da terapia” e dos seus benefícios. Mas a recomendação e o aconselhamento deixam subentendido o poder de escolha da outra pessoa. Diferente dos contextos em que a terapia se torna uma “condição para…”.
Repito, a terapia é uma jornada voluntária, e tudo o que acontece ali também é. Todos os processos mobilizados dependem da disponibilidade afetiva e do engajamento comportamental do cliente. Por isso, iniciar um processo com base no pedido ou recomendação de outra pessoa, sem uma real disponibilidade pessoal, no geral acaba sendo pouco produtivo. Vale a pena, então, avaliar quais eram suas reais motivações para iniciar a terapia, naquela primeira tentativa. Você se via realmente disponível para engajar neste processo ou iniciou por motivações externas?
Segundo aspecto: A terapia acontece dentro de uma relação terapêutica
A qualidade da relação entre terapeuta e paciente impacta diretamente o processo de psicoterapia. É esse elo de confiança, vulnerabilidade e intimidade que vamos construindo, sessão após sessão, que também garante a qualidade do tratamento.
Não é incomum que eu receba clientes, na minha clínica, que já tiveram experiências com terapia, mas não foram positivas, porque não se sentiam acolhidos ou não se identificavam com o terapeuta. É como se algo não se encaixasse na relação e isso, de alguma forma, impacta o fluxo do processo, a profundidade das reflexões, a abertura e entrega emocional do cliente, e até mesmo a confiança nas recomendações, orientações e reflexões que o terapeuta propõe. Ou seja, o engajamento na terapia diminui consideravelmente.
O que eu quero dizer é que a relação terapêutica é um aspecto muito importante a ser avaliado na qualidade do processo de terapia. É preciso sentir-se bem com o terapeuta, ao menos “encaixado”. E sentir-se bem não quer dizer sair da terapia sempre feliz e agradado. Pelo contrário. Brinco que a terapia é uma relação de amor e ódio. Às vezes, a gente ama o terapeuta, e por vezes, a gente detesta. Isso porque, habitualmente, vamos falar e ouvir coisas que doem, com recorrência tocaremos em feridas ainda inflamadas. Mas, de alguma forma, sentir segurança nesse vínculo fará toda a diferença, Por isso, o vínculo terapêutico é um dos pilares fundamentais para o sucesso desta jornada.
Se você já tentou terapia e a relação terapêutica não foi agradável, se não “encaixou”, vale a pena, talvez, tentar de novo com outro terapeuta. Inclusive porque, dentro da Psicologia, temos abordagens diferentes, linhas de raciocínio clínico diferentes, o que acaba mudando também a conduta clínica e o estilo terapêutico de cada profissional.
Terceiro aspecto: A mudança é parte de quem somos
É importantíssimo considerar, o fato de que não somos as mesmas pessoas. Nós mudamos o tempo inteiro. Eu não sou mais a mesma Mariana de ontem, assim como não sou a mesma Mariana do ano passado, de 5 anos atrás ou de 10 anos atrás. Eu mudei, vivi novas experiências, tive novos aprendizados e, em alguma medida, expandi minha percepção sobre mim mesma e sobre o mundo. O fato de que eu não sou mais a mesma é uma prerrogativa e um convite, talvez, a considerar tentar o novo.
Você não muda de opinião? Tenho certeza que sim!
Eu tenho gostos que antes eu não tinha. Tem coisas que eu dizia: “Ah, isso eu nunca vou usar!” e hoje eu uso. Há experiências que eu já disse que nunca iria ter e hoje eu vivencio, eu gosto, eu quero e tenho desejo de vivenciar. Nós mudamos!
Considere segundas chances. Mantenha abertura para tentar novamente, conhecer algo novo, mesmo que seja um novo profissional. Muitas vezes, em nossa vida, tentaremos fazer coisas que não se encaixam em nossa rotina. Precisaremos, então, esperar o momento justo para fazê-las. É provável que aquela pessoa que você era, na primeira vez em que tentou terapia, não seja mais a mesma que você é hoje. Possivelmente, se você experimentar em um outro contexto, com uma nova consciência, esse processo se encaixe melhor, dê certo. Talvez, o teu novo momento seja um contexto mais apto e preparado para receber os estímulos que a terapia propõe.
Bem, eu poderia passar muito mais tempo compartilhando outras reflexões e motivos para te encorajar a reconsiderar a terapia. Mas acredito, fortemente, que essas três já são suficientes para te fazer repensar sua experiência inicial, com base em quem você é hoje. É claro, existem outros processos de desenvolvimento pessoal. A terapia é apenas um deles.
Contudo, não só porque eu sou psicóloga e acabe puxando um pouquinho a “sardinha” para a Psicologia, mas a evidencio, sobretudo, porque ela é uma ciência. Nos esforçamos – enquanto área de conhecimento – a produzir com responsabilidade, para construir métodos respeitosos e éticos. De modo a devolver, para a sociedade, uma prestação de serviços eficiente e respeitosa. Dessa forma, encontrar um profissional bem indicado pode ser uma forma segura e acolhedora de dar início à sua jornada de desenvolvimento pessoal.
Se você deseja mergulhar neste processo, me coloco à disposição para te ajudar. Basta clicar aqui, para que possamos conversar.
Um abraço carinhoso,
Mari