Não precisamos de muita idade para que, na ocasião de algum sofrimento, escutemos: “Espera, pois o tempo cura tudo”, não é mesmo? Tenho certeza de que você já ouviu esta frase de alguém e, arrisco dizer, que já a
pronunciou também. Perdi a conta de quantas vezes eu a ouvi e, por diversas vezes, devo ter dito. A ideia de que o tempo ameniza e resolve tudo, tornou-se uma máxima em nossa rotina.
Acon
Ué?! Então, por que temos a sensação de que com o tempo os problemas se resolvem?
Alguns aspectos podem ser fundamentais para responder a este questionamento, mas me concentrarei em dois deles: 1) intensidade dos sentimentos e sensações e 2) ativação comportamental.
1) A intensidade dos nossos sentimentos é uma das chaves de nossos problemas. Quando estamos temporalmente próximos de acontecimentos que nos deixam mal (notícias ruins, rompimento de relações, problemas etc), tendemos a sentir de forma mais intensa. Leva um tempo para que habituemos com o desconforto e os sentimentos ruins que vêm por meio de alguma vivência, por isso, este momento se torna sentimentalmente pesado. Quanto mais distante temporalmente do evento, menos intensa tende a ser a sensação e, então, é possível atentar a outros aspectos importantes a serem considerados. Não é mero acaso aquele velho conselho: “Deixe a cabeça esfriar e depois tome decisões!”.
2) O segundo ponto importante trata-se da ativação comportamental. O que quero dizer com isto? É simples! Enquanto nos sentimos mal, por qualquer motivo, não deixamos de nos comportar, mantendo nossa rotina, experimentando novas situações e mudando hábitos. Assim, aquele incômodo que era sentido por determinada situação, passa a ser secundário, pois novas experiências vão tomando espaço, criando novos sentimentos e, sobretudo, modificando nossa relação com o mundo ao nosso redor. O contrário disto, a paralisação comportamental, pode ser muito prejudicial, digo já por quê.
Estes dois pontos fundamentais, nos ajudam a compreender se realmente o tempo é uma varinha mágica. Parece que não…
Ainda está confuso? Veja só…
Quando, lá no início, eu disse que esta máxima pode ser uma cilada, significa que ela facilmente pode ser confundida com o seguinte p
Na verdade, o tempo oferece 1) a possibilidade de nos relacionarmos de forma diferente com o mundo e, assim, produzirmos diferentes consequências. Ou seja, é com o passar do tempo que vamos experimentando e convivendo com diferentes pessoas, lugares e sentimentos. Por consequência, aquele problema se torna menor ou deixa de existir, simplesmente passa a não fazer sentido.
2) Também possibilita a modificação de nosso ambiente, pois as pessoas estão em constante mudança – assim como nós! Este fato exige diferentes atitudes e formas de se comportar. O raciocínio é o seguinte: se tudo mudou, se todos mudaram, devo me adaptar e modificar meu modo de agir.
Humm… nenhuma mágica aconteceu, não é mesmo?
O que quero propor com a quebra deste mito, é que precisamos estar sempre atentos ao modo como nos
relacionamos com o ambiente. Quando digo “ambiente”, me refiro ao nosso mundo
mais próximo, aquilo que nos afeta, tanto pessoas, como objetos, lugares… nossas vivências no geral. Será que temos deixado de agir sobre nosso ambiente, esperando com que a dor passe? Torcendo para que o problema se resolva? Será que temos, simplesmente, esperado o tempo curar? Se sim, talvez essa não seja a melhor saída, procure ajuda!
Somos ativos em nosso ambiente, nós o modificamos e somos modificados por ele, numa relação mútua. Observe seu dia a dia e faça com que o tempo seja seu aliado, não espere que ele seja o gênio da lâmpada!
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Abraço carinhoso,
Mari
2 comentários em “O tempo cura (?)”
Seguir por outros caminhos que me possibilitem continuar, porém, me preservando mais. (lindo texto o seu, Mariana, como sempre)
Tenho usado o tempo a meu favor, pensando mais nos meus objetivos e assim, deixando, sem perceber, o que me machuca em segundo plano.
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