Afinal de contas, quanto tempo dura o processo de psicoterapia? Tenho certeza de que, em algum momento, essa dúvida já passou pela sua cabeça. Por isso, te convido a construirmos esse raciocínio juntos.
Primeiro, é essencial compreender que a terapia é um processo voluntário. Ela só funciona quando há disposição genuína para o autoconhecimento, expansão da consciência e compromisso com a mudança. Sem essa motivação interna, é pouco provável que o processo avance de forma significativa.
Assim como a entrada na terapia é uma escolha pessoal, a saída também é. Você pode interromper quando quiser — seja por questões financeiras, falta de tempo, mudança de prioridades ou porque já se sente melhor. A decisão é sua, e tudo bem.
O que quero compartilhar com você agora é o raciocínio que nós, terapeutas, usamos para guiar nosso trabalho ao longo do processo terapêutico.
Além da superfície: entendendo a raiz do problema
Ao buscar a psicoterapia, muitas pessoas chegam com uma queixa, desconforto ou tipo de sofrimento que estão vivendo. Essa queixa costuma ser a porta de entrada para o processo, e pode variar de questões conjugais a crises de ansiedade, insônia, burnout, obesidade, baixa produtividade, entre outras.
A partir daí, o terapeuta começa a explorar o que está por trás desse sofrimento, como ele foi construído e o que o sustenta. Essas queixas são o “topo do iceberg” — visível, mas sustentado por camadas mais profundas: déficits de habilidades, experiências traumáticas, padrões de comportamento rígidos.
Aplicar protocolos padronizados, sem entender a raiz da queixa, tende a ser ineficaz. É preciso ir além dos sintomas, trabalhando também a base que os alimenta. Isso exige tempo e dedicação. E aqui está uma surpresa comum: muitos pacientes esperam que o terapeuta seja um “milagreiro”, mas não somos.
A terapia pode sim ajudar a aliviar sintomas, mas também convida à mudança de vida — para que esses sintomas não retornem no futuro. Se a pessoa deseja apenas algumas estratégias para lidar com a ansiedade, por exemplo, poucas sessões podem bastar. Mas se o objetivo é transformar a dinâmica pessoal que gera a ansiedade, o ritmo e a profundidade do processo serão outros.
Mudança demanda tempo
A mudança está diretamente ligada ao aprendizado. E aprender algo novo leva tempo — especialmente quando falamos de comportamentos e repertórios emocionais. Novas habilidades exigem prática, disciplina e repetição. Não mudamos de hábitos da noite para o dia. Além disso, a vida é imprevisível: somos constantemente atravessados por contextos diversos, que podem dificultar ou facilitar o processo.
Há pessoas que vivem em ambientes pouco favoráveis à mudança ou que apresentam condições clínicas que exigem diagnóstico e medicação. Por isso, o processo terapêutico de cada um é único. Não há comparações possíveis.
Cada processo é único
Enquanto algumas pessoas conseguem realizar mudanças significativas em um ano, outras podem levar mais tempo. E está tudo bem. Muitas vezes, a terapia é buscada em momentos de crise, com sintomas intensos e sofrimento avançado — o que naturalmente torna o caminho mais complexo e longo. Afinal, como construir algo novo a partir de um lugar de extrema fragilidade?
Aqui vai um alerta: não espere a dor se intensificar para buscar ajuda. Quanto mais complexa a queixa, mais difícil será o processo de mudança.
Medindo o progresso na terapia: compare-se com você mesmo
Um bom terapeuta te ajuda a entender onde você está no processo. Eu, por exemplo, gosto de compartilhar com meus clientes o que estamos trabalhando: quais dificuldades estamos enfrentando, quais habilidades precisam ser desenvolvidas, por que proponho determinadas intervenções, e como tudo isso se conecta à raiz do sofrimento.
Eles sabem o que está abaixo do “topo do iceberg” — têm clareza sobre as mudanças que precisam acontecer. Por isso, considero o tempo um critério perigoso para avaliar se a terapia está “dando certo”. O foco não deve estar no número de sessões, mas em quanto você tem mudado.
Compare-se com você mesmo: reflita sobre como estava no início e como está hoje. Use aquela queixa inicial como termômetro: você está se afastando dos sintomas que te levaram à terapia? Está mais consciente, mais preparado, com novas ferramentas?
Essas são as medidas mais justas para avaliar o valor do processo terapêutico.
Por fim, se em algum momento você decidir encerrar a terapia, está tudo bem. Converse com seu terapeuta, alinhe expectativas e escute o que ele tem a dizer. Afinal, a terapia é, acima de tudo, uma relação — e uma relação voluntária.
Com carinho,
Mari