Você já viveu ou conhece alguém que já esteve em um relacionamento que não fazia bem? Só quem já esteve em uma dessas posições sabe o quão difícil é passar por isso, ou ver uma pessoa querida passando por uma situação tão nociva, sem nem se dar conta.
Para quem está do lado de fora, pode parecer óbvio identificar que o relacionamento não faz bem e que um dos envolvidos está sofrendo. A verdade é que, na maioria das vezes, um relacionamento abusivo não começa abusivo. Apesar do fácil acesso à informação e de tantos alertas, é comum ouvir histórias em que o abusador costumava tratar a parceira muito bem, que era tudo ótimo até o momento que deixa de ser… E, por vezes, pode ser realmente muito difícil identificar como e por que tudo mudou.
Estar em um relacionamento abusivo causa um emaranhado de sensações que oscilam entre emoções desconfortáveis e sensações de bem-estar e felicidade. E tudo acontece de forma tão rápida que, quando menos se espera, a teia de emoções conflitantes está armada e a vítima (quando consegue), se vê totalmente presa neste emaranhado confuso e sufocante.
Relacionamentos saudáveis envolvem, dentre muitas caraterísticas, respeito pela individualidade do outro, valores compatíveis, responsabilidade consigo e com o outro. Além de paciência para lidar com as diferenças e imprevistos, saber abrir concessões, estabelecer limites e, claro, muita empatia. Por outro lado, relacionamentos nocivos são marcados pelo oposto a tudo isso.
Quando falta respeito pela individualidade do outro e a comunicação não é eficaz. Quando o ciúme e a necessidade de controle prevalecem sobre a liberdade e a confiança. Quando o relacionamento mais parece sufocar do que trazer leveza e cuidado, é importante ligar o alerta!
Ao receber pacientes em meu consultório, fico atenta a alguns sinais silenciosos que podem evidenciar relacionamentos nocivos. Alguns deles como a autoestima baixa, uma insegurança profunda, incapacidade de enxergar além e de perceber a situação tal como ele é costumam me deixar bastante preocupada! Entendo que seja muito difícil para a vítima se reconhecer neste lugar de sofrimento e sei o quanto é importante ter pessoas atentas à sua volta para intervir quando necessário.
Muitas vezes, quando dentro de um relacionamento nocivo, uma das partes sente um medo muito intenso de perder e, ironicamente, acaba se perdendo. Movida pelas inseguranças, dependência emocional, baixa autoestima e medo de fracassar no relacionamento, ela faz de tudo para manter o outro ali ou ainda tenta “consertá-lo” a todo o custo. Este caminho é muito tortuoso, deixa feridas profundas…
Apesar da complexidade das relações, acredito que um bom termômetro para identificar se o relacionamento é saudável ou não é avaliar o quanto a relação está alinhada com o seus valores e, principalmente, identificar as sensações que a relação te proporciona.
Escolher alguém para se relacionar afetivamente é uma das escolhas mais importantes que fazemos durante a vida, isso porque as pessoas que nos cercam são as que mais nos influenciam, para o bem ou para o mal. O parceiro que escolhemos para partilhar a vida pode potencializar o nosso bem-estar, elevar a autoestima e a autoconfiança, ou fazer o completo oposto.
Pensando nisso, é importante escolher com cuidado as pessoas que nos cercam e manter as “anteninhas” ligadas para captar sinais de alerta que podem estar piscando para nos proteger. Prestar atenção às pessoas que nos cercam e nos questionarmos quanto às sensações que elas nos provocam é um bom começo.
Vou compartilhar algumas perguntas, abaixo, que podem te ajudar a avaliar, ainda que superficialmente, a qualidade do seu relacionamento atual. Essas perguntas podem te causar desconfortos, em alguma medida. Caso você se reconheça numa relação abusiva, busque ajuda das pessoas que você ama. Talvez, por conta das características do relacionamento, você pode ter se afastado de muitas pessoas queridas. Ainda assim, busque ajuda. Busque rede de apoio. Familiares, amigos que prezam por você ou psicoterapia.
Como você se sente dentro do seu relacionamento? Te traz sensações boas? As situações desafiadoras e desconfortáveis são facilmente contornadas ou o que era simples, se torna um caos? Você se sente diminuída pelo seu parceiro (a)? Tem muito medo de perdê-lo (a)?
Já ouviu frases como: “você nunca vai encontrar alguém que te aguente e te ame como eu.”, “Você é louca, exagerada!”?
Você se sente incapaz de caminhar sozinha? Se afastou de pessoas que ama? Deixou amizades porque ele (a) te fez acreditar que não valia a pena se relacionar com outras pessoas? Hoje você se sente só?
Você sente que essa relação te deixa mais mal do que bem? Tem dias que parecem ótimos e dias que são um caos? A ansiedade vem batendo à sua porta?
*Se, neste momento, você se identificou com essas características, busque alguém de sua confiança para conversar. Saiba, você não está sozinha!
Ps.: Escrevi este texto me referindo a relacionamentos abusivos heterossexuais, porque a prevalência de mulheres abusadas por homens é infinitamente superior. No entanto, homens também podem ser vítimas de relações abusivas, seja numa relação hetero ou homossexual. Caso você tenha se identificado, busque ajuda!