Sabe que, nos últimos tempos, eu tenho pensado bastante sobre como lidamos com os nossos desejos.
Muitas vezes, a gente passa um longo período desejando algo — e, com isso, esse desejo ocupa um espaço emocional importante dentro da gente. A gente espera, idealiza, se projeta. Mas é muito comum esquecermos de conversar com esses desejos. Articular, refletir, bater um papo honesto com eles.
Vou dar um exemplo que apareceu em sessão de terapia recentemente, e que ilustra bem o que quero dizer.
É muito comum as pessoas desejarem um estado de independência. Querem se sentir autônomas, seguras. São estados muito procurados. Eu arriscaria dizer que, entre 100% dos clientes de terapia, 90% ou 99% mencionam esse desejo em algum momento.
No entanto, pouca gente pensa sobre as consequências de viver esses estados. As pessoas falam muito sobre querer se sentir seguras, independentes — mas poucas realmente entram em contato com a realidade de viver isso.
Porque viver independência e segurança, muitas vezes, significa experimentar solitude. Não existe autonomia — afetiva, financeira, emocional — sem uma boa dose de solitude. É incompatível.
Para sair de um estado de dependência ou insegurança, eu preciso assumir riscos. Preciso bancar decisões, inclusive fisicamente. Preciso tolerar o desconforto de não dividir as consequências com o outro. Só então posso começar a entender o que é me sentir autônoma, independente.
E veja: isso vem no pacote. Mas muita gente esquece de contabilizar esse item quando está ali, desejando viver uma vida mais livre, mais segura. Solitude assusta. E, muitas vezes, não é isso que as pessoas imaginam quando dizem que querem “independência”.
Talvez você mesmo já tenha desejado isso. Talvez esse desejo esteja aí, ocupando espaço dentro de você há bastante tempo. Mas será que você já pensou nas consequências?
Esse raciocínio se aplica a quase tudo o que desejamos. Não só estados emocionais, mas objetos também. Às vezes, a gente quer um tipo de cabelo, uma roupa, um carro — mas raramente nos perguntamos: o que vem junto com isso? Quais as responsabilidades? O que eu vou precisar manejar, tolerar, sustentar?
Às vezes ficamos presos à fantasia. E esquecemos de fazer o exercício de realidade.
Esse exercício é essencial para evitar frustrações, surpresas ou até abandonos no meio do caminho. É ele que nos permite seguir atrás dos nossos desejos de forma mais consciente, mais confortável, mais íntegra.
Porque todo desejo tem consequência. Todo. Não importa se é um estado, um objeto, uma conquista.
A pergunta que fica é:
Você está preparado para bancar as consequências do que deseja?