Relações interpessoais: da dor à cura!

Ser terapeuta não é uma tarefa fácil, mas há uma parte particularmente desafiadora neste trabalho. Grande parte do tempo, durante os meus atendimentos, sou convidada a escutar histórias de dor, feridas e cicatrizes que meus clientes vivenciaram ao longo de suas trajetórias. Parte desse tempo, preciso criar um espaço de escuta, acolhimento e validação. É difícil ouvir e não se emocionar, se preocupar ou se importar. Eu me importo muito.

Mas por mais desafiador que seja tocar o universo do outro, ouvir e tentar acolher todas suas dores, esta ainda não é a parte mais desafiadora deste ofício. A parte mais desafiadora, em minha prática como terapeuta, é encorajá-los a se relacionar novamente, uma vez que essas feridas e cicatrizes foram construídas dentro de relações interpessoais. A verdade é que, quanto mais ferido o meu paciente está, mais isolado ele fica. Quanto mais isolado ele fica, menos ele se relaciona. E quanto menos ele se relaciona, mais essa dor se perpetua.

Sim, parece estranho dizer que a maior dor do meu paciente vem das relações interpessoais e meu maior desafio é, então, encorajá-lo a se relacionar. Essas duas frases parecem não se combinar e, de alguma forma, podem até parecer paradoxais, quase antagônicas, não é mesmo? A grande ironia, de todo este cenário, reside no fato de que as nossas relações interpessoais têm o poder de nos ferir profundamente. E, ao mesmo tempo, as nossas relações interpessoais têm o poder de nos curar.

O meu grande desafio como terapeuta, repito, é encorajar pessoas que foram feridas em suas relações a acreditar que outras relações podem curá-las. O argumento mais genuíno que costumo usar para incentivá-las é o fato de que a maior parte dessas feridas profundas foi aberta na infância e na adolescência, períodos em que não podíamos escolher nossos vínculos. Inclusive, ouso dizer que boa parte dessas feridas foram causadas dentro das relações mais próximas, aquelas que deveriam ser  seguras e estáveis (como pai e mãe, por exemplo).

O cenário parece desmotivador, quando nos damos conta de que a maioria dos traumas mais profundos que vivemos foram causados pelos nossos pais. Mas há esperança. Uma vez adultos, temos o poder de escolha. Como responsáveis por nossas decisões, também com a ajuda da terapia, temos a possibilidade de fazer escolhas conscientes e planejadas. E aí está o “pulo do gato”! Na vida adulta, podemos então buscar relações que, provavelmente, serão mais seguras, mais acolhedoras e validantes, diferentes das experiências vividas nos vínculos “obrigatórios” na infância e adolescência.

É claro que relações interpessoais são totalmente imperfeitas. E não há garantia de que, na vida adulta, essas novas relações não causarão outras feridas. À medida que buscamos vínculos mais seguros e imperfeitos, de alguma forma, parece que damos contorno e acolhemos aquelas feridas de antes, fazendo com que elas não fiquem mais ativas, nos deixando sempre muito sensíveis. De alguma forma, ganhamos força para nos relacionar. Ganhamos consciência para nos relacionar. Assim, passamos a lidar com as novas relações – sempre imperfeitas –  de modo muito mais flexível.

Por mais paradoxal e desafiador que seja percorrer essa jornada com os meus pacientes, quando eles começam a se abrir para novas relações, aí sim sei que estou no caminho certo, que estou fazendo um bom trabalho.

E para você, faz sentido pensar nas relações como caminhos entre a dor e a cura? Como suas relações interpessoais têm impactado a sua jornada até aqui? Se esse texto tocou você, de alguma forma e te encorajou a buscar ajuda, me escreva. Clicando aqui, você pode entrar em contato comigo.

Abraços carinhosos,

Mari

 

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